sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Semana Sta. Marta

Escrevo hoje porque amanha estou de viagem de regresso a casa e quando chegar vou ter mais vontade de descansar que de escrever as aventuras neste hospital. São 5 horas de viagem no mínimo e não são pêra doce para ninguém, muito menos para mim que de carro aguento-me bem e de autocarro reclamo mas não muito, já de ambulância a história é outra.
Não sei para que horas esta prevista a partida, mas pelo que me sussurraram ao ouvido é para depois de almoço, portanto 14h da tarde mais coisa menos coisa, chegada ao destino entre as 19h e as 20h, jantar e mimir que a semana foi uma correria.
Ora bem, Segunda-feira cá vim eu com os meus papás, estrada abaixo, bem cedinho, para evitar o trânsito infernal que se faz sentir em Lisboa. Chegamos á hora de almoço e conseguimos estacionamento bem em frente ao hospital (o que é um achado), e como não era imperativo vir logo para o hospital ainda fomos almoçar a um restaurante simpático recomendado por um polícia lunático que estava á frente do hospital a “controlar” o esquema! LoOl.
Depois do almoço, peguei nos sacos e passei os portões em direcção ao edifício do claustro. Elevador para o 2º piso e á esquerda na máquina do café, e novamente á esquerda para o serviço de pneumologia. Já me esperavam, instalaram-me e pronto, oficialmente estou no Sta. Marta para começar a tão esperada semana de exames…
1ª impressão?! O aspecto, velho! Este hospital parece saído da idade dos antigos reis. E o meu pai sussurra-me ao ouvido “Isto era um antigo convento”, portanto foi recuperado para hospital. Bem pode ser que isto melhore. Esperemos que sim! Papás de novo a caminho de casa, a viagem é longa portanto não podem ir tarde e cá fico eu, entregue ao destino!
Para começar, peço para mudar da cama 9 para a cama 11, prefiro ficar encostada á parede e como estão as duas vagas não há problema, foi-me cedida a “transferência” é só uma questão de dois passos, mas prefiro ficar encostada á parede que á entrada da porta! Uma enfermaria de 4 camas, com duas vizinhas simpáticas, mas já de alguma idade. Nada de grave. Já estive bem pior!
Vem uma enfermeira falar comigo e diz-me que terça vai ser um dia de corrida, porque esta semana á greve dos enfermeiros portanto só trabalham terça, na quarta, quinta e sexta fazem greve e só prestam a assistência mínima. Estou feita. Já uma dieta de agua e um pó para limpar o intestino porque tenho de fazer um Raio X á coluna e o intestino tem de estar limpo e o meu jantar só pode ser uma sopa e depois mais nada ate ao exame na manha seguinte. Bem eu que sou de comer bues, fiquei “aflita”, como me aguentar sem papinha?! Aguentando! LoOl
Terça-feira, um dia cheio, 7h da manha vêem tirar-me sangue, as veias estão preguiçosas, complicado de tirar, mas lá se consegue encher os 10 tubos, depois embarco para uma clínica fazer uma centigrafia. Feita a centigrafia passo ao Tac ao tórax e aos seios nasais. Raio X de mais quantas maneiras á coluna, ao abdómen, ao peito, a todo o lado, que mimo e para finalizar em beleza uma ecografia pélvica + abdominal. E sem comer… 13h e eu sem nada no estômago, só agua! 14h finalmente no quarto, comer tranquilamente e mais 20 tubos de sangue. Menos preguiçosas as veias desta vez, mas dói igual! LoOl. As 15h as piores provas funcionais da minha vida, não pelo meu estado físico mas porque a medica foi tão, mas tão, mas tão simpática que eu só tinha vontade de me atirar pela janela, ou limite, chegar ao quarto fazer o saco e meter-me no autocarro de regresso a casa e mandar isto tudo á MERDA! Pensei mesmo em desistir, senti-me tão, mas tão mal… Não chorei porque não sou muito de chorar, mas vontade não me faltou e depois um dia inteiro em exames, que ninguém me disse que ia fazer, nem para que eram, nem como eram, nada. Sim, estão em greve e querem acelerar tudo, mas nunca pensei que fossem tantos num só dia. Só me falaram das análises, da centigrafia e do Raio X á coluna, todos os outros vieram de pára-quedas e eu tenho de me mentalizar antes que vou fazer um exame para o ir fazer ou entro em pânico. E depois nenhum médico veio ver-me, ninguém se dirigiu a mim de forma simpática e disse uma palavra simpática, parecia uma boneca a andar de mão em mão, “Agora este, Agora aquele, Enche, Deita fora, Respira, Não respira, Vira á direita, Vira á esquerda, Sabes porque estás aqui?! Prós exames do pré transplante. Deita e espera, Faz o que eu mando quando eu mando”… AHHHHHHHHHHHHHH. EI, PAROU!!! Onde esta o medico?! Porque faço isto novamente?! Para que faço isto?! Para que serve no transplante?! EXPLIQUEM!!!
Um dia cansativo, esgotante para quem tem oxigénio, para quem se sente debilitado. Um dia de desânimo para quem espera que um medico se chegue perto de nós e nos diga “Sê bem-vinda, vais fazer este exame porque é preciso ver o estado disto e daquilo e porque tem esta importância no transplante, precisas de remédios?! De oxigénio?! De alguma coisa?!”, mas nada… Sim, apoiaram-se na ideia que “Já teve um irmão que passou pelo mesmo processo e já sabe mais ou menos como é.”. Exacto, sei mais ou menos mas não sei tudo, cada caso é um caso e em 6 anos muita coisa mudou e eu não estava sempre a acompanhar o meu irmão ele não me contava tudo, só o mais importante, houve e haverá conversas que foram feitas e ficam entre 4 paredes. Alem disso ele é rapaz, eu sou rapariga, ele não precisou de exames pélvicos, nem ouviu assim com a maior das descontras “Olha tens um quisto num ovário”, nem tudo é igual. Eu não sei tudo, também preciso de ser esclarecida. Não tenho tantas dúvidas como os outros doentes mas tenho dúvidas. E gostava de obter as respostas de bom grado sem ter de colocar questões.
Quarta-feira rezei para que não fosse igual. De manha fiz um exame na cirurgia cardiovascular para ver se não tinha trombos nas pernas, a viagem é curta, atravessar um corredor, muito bem. Fim da manha fisioterapeuta. Veio, fez fisioterapia, disse-me uma dúzia de palavras que me deixaram aflita pró transplante, a pior: “Sabe que vai ter uma vida condicionada depois do transplante”, O QUÉ?! Mas isso já tenho agora, se faço o transplante é para ter uma vida mais normal, se vou ficar condicionada como estou agora, então deixo-me estar! Que animo… Novamente a vontade de fazer o saco e apanhar o autocarro direcção a casa. Desistir de tudo!
Almoço e vou fazer um ecocardiograma. Médicos nem vê-los, evaporaram-se… Também estão a fazer greve como os enfermeiros! LoOl. O desânimo é geral, a desilusão mais ainda, não me encaixo aqui…
Finalmente ao fim da tarde o meu irmão cansado de me ver a desesperar liga pró hospital e pergunta por um médico. Lá vem a Dra. Alexandra, com a mesma simpatia de sempre e beleza também, explicou-me tudo direitinho, finalmente alguém se dignou a vir explicar-me tudo, ponto por ponto, como ia ser, como estava a ser, quanto tempo demora, qual a hipótese que tenho de me deixarem ir para França, tudo, mesmo tudo. E pediu desculpa por não vir mais cedo, mas cada vez que vinha estava eu em exames. Uma desculpa a meu ver bem esfarrapada, porque visto que são eles que marcam os exames deviam saber para que horas são marcados! Enfim já passou!
Quinta-feira, Mamografia e Ecografia Mamária (um exame que não estou a ver o meu irmão a ter feito, mais uma diferença), mais uma vez despir-me em frente aos Sr.s Dr.s e não fica tudo feito porque ainda me falta consulta de estomatologia, que faço na minha região e mando os exames para baixo e de ginecologia (o meu irmao de pernas abertas á procura de infecções... NANNN!!! LoOl), igual como na estomatologia. Estou tramada! Á tarde encontro com a psicóloga, uma conversa fixe. E com a medica fisioterapeuta, conversa e mais conversa e depois prova de marcha. Alguns conselhos, alguns exames rápidos, perguntas rápidas e básicas, algumas advertências… Conversas no geral muito boas e animadoras, que me deixaram muito bem-disposta. Só gostava de as ter tido logo quando cheguei e não agora que me vou embora, de certeza que me teria “divertido” bem mais e não tinha stressado tanto e ficado com uma impressão tão negativa…
Quanto aos enfermeiros, catering e auxiliares… NADA A DIZER… Pessoas excelentes, bem fixes mesmo!!!
Agora é ir para casa e esperar! Esperar pelo aval dos médicos, pela decisão final. Aceitar-me e transplantar-me aqui, ou aceitar-me e deixarem-me seguir para Paris?! Não sei, mas a minha vontade é só uma, estar perto do meu irmão, dos verdadeiros, da minha sobrinha! E aqui… Não estou próxima deles!!!

1 comentário:

  1. Que correria, que stress... bem, tu já sabes a minha opinião a respeito de tudo o que se passou contigo... vamos ver de agora para a frente.
    Um beijão!!!

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