sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Começo...

Sempre soube que era diferente, não por ser mais medrosa ou mais acanhada que os meus amigos, mas porque sabia possuir uma doença que ninguem conhecia e para a qual me mentalizaram não haver cura. Uma doença que me passaria completamente ao lado não fosse ver as dificuldades que o meu irmão, mais velho que eu 8 anos, tinha em respirar e a qualidade reduzida de vida que ele tinha. Pois é, eu nem sempre fui "doente", aliás eu so comecei realmente a estar e ficar doente devido á FQ aos 17 anos de idade, até lá, vivia o problema do meu irmão, as dificuldades dele e não as minhas que simplesmente eram nulas. Sempre seguida no Hospital Santo António, com o meu irmão, por medicos competentes que me receitavam os antibioticos na altura das gripes e me faziam exames periodicamente por questão de segurança, não fosse eu ficar doente de um momento para o outro, o que me chateava imenso porque eu sentia-me bem e pensava não ser preciso.
Vi a doença condicionar a vida o meu irmão, ao ponto de o atirar para uma cama durante 7 meses a oxigénio 24h por dia, mas nunca em altura nenhuma me passou pela cabeça chegar aquele ponto, vi-o partir do país com pouco tempo de vida para se submeter a um transplante pulmonar sempre a sorrir e bem disposto e pensei "eu não conseguia", vi a alegria dele e dos meus pais quando o transplante foi um sucesso e pensei que finalmente o Pesadelo teria acabado, assim como os meus pais, que ficaram aliviados e acreditavam quefinalmente iriam ter paz.
Como nos enganamos... O pesadelo ainda iria continuar por mais algum tempo...
Tinha 17 anos e estava a entrar na fase da rebeldia e acabei a entrar na fase da revolta. Revolta porque comecei, pela primeira vez na minha vida, a sentir-me condicionada. Uma crise de tosse persistente que não me deixava dormir á noite, uma consulta com o medico que atribuiu aquela crise ás alergias da estação mas um exame que se revelou comprometedor e que levou o medico a por-me a oxigénio todas as noites. Apenas 1L durante 12h mas o suficiente para eu perceber que a minha vida nunca mais seria a mesma. Antibioticos, nebulizações e oxigénio...
Foi assim durante dois anos e finalmente a pseudomona que me levou ao meu primeiro internamento, o inicio da Tobramicina para a irradicar e a confirmação, estava doente e não podia ignorar mais os meus pulmões...
Tratamentos de antibioticos, nebulizações, cinesioterapia e oxigénio a 1,5L durante 16h. Crises constantes que eu tentava controlar durante o dia e que não me deixavam descansar á noite. Revelação aos meus amigos mais proximos que estava doente e que tinha de ter cuidado com certas coisas e certos ambientes. Desanimo e impotencia perante tudo o que me estava acontecer, não, eu não era doente, eu não aceitava ser doente e puxava-me ao maximo, na dança, na escola, na vida e cada vez me cansava mais e cada vez insistia mais que não era doente e não seguia os tratamentos e ficava pior mas eu dizia que não, era só uma alergia, um ataque de asma, iria passar. Mas não passou. A dura e cruel realidade. E depois deixei de contar o tempo... Pareceu-me tudo tão rápido...
Um dia cheguei ao medico e ele disse "Elisabete querida, temos de começar a pensar no transplante, a tua doença está a galopar a uma velocidade vertiginosa", o mundo desabou. Senti-me afundar num mundo que não era o meu, senti-me uma anã numa terra de gigantes mas acima de tudo pensei nos meus pais, que ja tanto tinham sofrido e irião passar tudo novamente.
Levantei a cabeça e respondi "Se tem de ser, vamos em frente, eu só quero ser feliz." Os exames estavam pessimos, eu sentia-me pessima, não demonstrava a ninguem mas já me custava muito acompanhar os meus amigos, oxigénio a 2L, crises constantes, cansaço, muito cansaço, desistir do que mais amava (a dança) e render-me ao evidente...
Consulta atrás de consulta, tratamentos atrás de tratamentos, exames atrás de exames, oxigénio 24h por dia, antibioticos constantes assim como internamentos e finalmente o dia da minha referenciação para Coimbra... Respirei de alivio porque finalmente pensei que tudo se estava a resolver e que a minha 2ª oportunidade de vida estava a chegar...
Tontinha que fui, como eu me enganei...Como fui Inocente, a luta só ainda agora estaria a começar!!! Quem sairá vencedor?! Custe o que custar, eu serei a Vencedora!!!

Sem comentários:

Enviar um comentário